Educação integral e a garantia de direitos básicos

Falar de Educação Integral é falar de resistência. Esse foi o tom da fala de Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, ao representar a instituição no V Seminário Internacional de Educação Integral (SIEI), que aconteceu em São Paulo, nos dias 24 e 25 de setembro. O evento foi constituído de três mesas e uma Conferência Magna. Maria Thereza participou da segunda mesa da manhã: O direito à educação no Brasil e as perspectivas para a educação integral, que sucedeu a mesa: Desafios da sociedade contemporânea e o papel da educação. À tarde, a terceira mesa abordou o Currículo na Educação Integral, seguida da Conferência, que trouxe Bernardo Toro para falar sobre o paradigma do cuidado: “precisamos transformar o atual paradigma da acumulação, do poder e do sucesso, para o do cuidado de si, do outro, do bem público e do planeta, se continuarmos com a mesma forma de produção, no final no século já não somos viáveis como espécie.” O seminário aconteceu nos dias 24 e 25 setembro no SESC Vila Maria, em São Paulo, e está disponível, na íntegra, pelo site do evento.

Resistência

O tom dos debates foi de resistência diante de um contexto político desafiador, chamando para a luta pela educação, como um direito universal. “A Educação é sempre um espaço de disputa, e nós educadores temos que saber que estamos no centro. Hoje, o que se demanda de um educador é ser um excelente leitor de mundo”, disse Maria Thereza. O convite para participação no evento chegou para a presidente da Avante junto com o desafio de apresentar seu ponto de vista sobre os caminhos possíveis para as ações formativas continuadas dos educadores no contexto de ameaças que estamos vivendo, considerando as desigualdades territoriais e seus reflexos na formação desses profissionais, indispensáveis na garantia da Educação Integral de qualidade.

A fala de Maria Thereza tomou como base fatos históricos e nomes de referência para a Educação brasileira. Ela citou o baiano Anísio Teixeira, que inaugurou, entre as décadas de 30 e 40, o pensamento de uma escola universal, pública e obrigatória e foi responsável pela idealização e concretização do projeto Escola-parque – um protótipo da Educação Integral. Anísio trazia firme o pensamento de que Educação não é, e não pode ser, privilégio. “E isso foi altamente revolucionário na época”, sentenciou Maria Thereza.

Para enfatizar o tom de resistência, Maria Thereza resgata Paulo Freire e sua Pedagogia do Oprimido. “Ele nos mostra que as pessoas não são menos, são oprimidas. Para cada oprimido existe um opressor, e nós temos que pensar de que lado queremos estar. Qual nosso lugar nesse jogo? A gente tem só 30 anos encarando a escola pública como um bem público para todos, e menos de 20 anos de financiamento público para toda a Educação. Isso é muito pouco tempo em 500 anos de um país racista, escravocrata, excludente, violento como é o Brasil”, disse.

Para ela, a garantia da Educação, em especial a Educação Integral, é o caminho para a garantia dos direitos básicos para todos os cidadãos. “Me dá uma certa indignação ouvir a população, de forma geral, mas principalmente educadores, falarem mal da escola pública, falar que os meninos não aprendem, que não temos um bom IDEB”. E convida a todos a participar da construção da resposta para a pergunta que deu origem à sua fala: professor, gestor, crianças, adolescente, pais, comunidade. “A Educação que a gente quer não é algo para ser definido pelo ministro de plantão. É tarefa da sociedade. Então, a gente precisa estar inserido nesse dialogo para chegar a essa resposta”, disse.

Mesas

Estiveram na mesa, ao lado de Maria Thereza, José Henrique Paim Fernandes, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE); Macaé Evaristo, ex-Secretária de Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação; Rosana Rodrigues Heringer, professora da UFRJ e do Conselho Fiscal da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE); e o Conselho Diretor do Fundo Social Elas. A mediação ficou por conta de Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC).
A outra mesa da manhã: Desafios da sociedade contemporânea e o papel da educação, reuniu Elisa Lucinda, poeta, atriz, jornalista, professora e cantora; Flávia Oliveira, jornalista; com mediação de Rodrigo Hübner Mendes, diretor do Instituto Rodrigo Mendes, para discutir o enfrentamento dos diferentes tipos de discriminação no ambiente escolar.

Á tarde, as discussões giraram em torno do: Currículo na Educação Integral, com Cássia Dias, Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jose Inocêncio, de São Paulo; Monteiro Karla Fornari, da Escola SERTA; Keit Cristina Lira, do Centro de formação e acompanhamento à inclusão (CEFAI), da Secretaria Municipal de Educação (SME) São Paulo; Roger Vital de França Andrade, professor de educação física da Rede Municipal de Educação da Serra (ES); Valcenir Karai, da Escola Guarani; com mediação de Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM Brasil.  Ainda à tarde, o filósofo e educador Bernardo Toro, diretor da Fundación AVINA (Colômbia) e Membro do Conselho Internacional do Instituto Ethos falou sobre o paradigma do cuidado.

O evento foi promovido pela Fundação SM, em parceria com o Canal Futura, CENPEC, Centro de Referências em Educação Integral, CIEDS, Instituto Alana, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, SESC e SM Educação. Realizado no Brasil desde 2015, o SIEI aconteceu pela primeira vez em 2008, na Cidade do México.

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