Paralapracá ganha espaços nas escolas de Teresina

Como um princípio que reconsidera o espaço e o tempo, a chegada do projeto Paralapracá, surtiu efeito na reorganização do ambiente escolar. Nas escolas de Teresina, surgiram livros gigantes, áreas de contação de histórias, parques infantis feitos de modo inventivo, a partir dos mais diversos materiais. Um dia, os compradores da Prefeitura se surpreenderam, por exemplo, com a requisição de pneus. Mas por pouco tempo: logo viram os pneus serem coloridos e transformados nos mais diferentes brinquedos espalhados pelo gramado das escolas.

O projeto do Instituto C&A, por meio do Programa Educação Infantil, realizado em parceria técnica com a Avante – Educação e Mobilização Social, estimulou o envolvimento da comunidade, pré-requisito da sua metodologia e trouxe uma vitalidade criativa às transformações do espaço físico. Na Escola Roseana de Lima os funcionários se envolveram na construção de uma casa permanentemente instalada no pátio para a contação de histórias e o teatro infantil. Soluções inimagináveis surgiram para os contextos locais. No Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Roseana Maria Martins de Lima, por exemplo, o porteiro criou uma cobertura para o balanço infantil que se aquecia demais sob o sol do Piauí – e viu sua criação ser batizada como Balanço do Tio José.

Mas, a mais surpreendente das histórias de transformação foi vivida no CMEI Jofre Castelo Branco. Lá, como o prédio não foi construído para abrigar uma escola de educação infantil, sequer havia pátio para as crianças – uma única pequena área quadrada servia para os pais esperarem os filhos. Com a chegada do projeto Paralapracá a demanda por um ambiente lúdico cresceu ainda mais.

Foi quando o marido da diretora Izabel Souza Oliveira, um bombeiro aposentado, teve a ideia de pedir mangueiras, ganchos e outros materiais dos bombeiros que estavam em desuso, para improvisar um parque suspenso e móvel, que pode ser instalado e desinstalado em poucos minutos. Primeiro, surgiu um balanço, depois escadas e aos poucos uma dezena de opções de brinquedo, que chamam a atenção de tal forma que até os adolescentes da escola vizinha passaram a vir buscar os irmãos mais cedo para brincar no local. A “tecnologia” começou a ser exportada para outras escolas espontaneamente, enchendo Izabel de orgulho.

Para além da escola – Na base das mudanças está o envolvimento das forças das comunidades e das famílias. Diferentes pessoas, riquezas da comunidade, foram atraídas para a escola. “Esta foi uma das propostas do projeto: encontrar agentes da comunidade que ajudassem na mudança de postura em favor da qualificação do ensino. A própria orquestra da cidade se abriu. Contadores de histórias, artistas… foi uma caça ao tesouro”, diz a assessora pedagógica do projeto Paralapracá, Janaína Gomes Viana.
O impacto do Paralapracá ultrapassou os limites da escola e chegou às famílias. Que o diga Marlene Vieira, mãe de Letícia, de 6 anos, e de David, de 4 anos, que um dia se assustou quando sua filha lhe pediu que servisse a comida à mesa e não diretamente das panelas, como de costume. “É assim que se faz na minha escola e todos ficamos juntos”, explicou Letícia, que levava para casa o estímulo à autonomia em todos os momentos, inclusive na hora de se servir de alimentos.

E, assim, logo veio também a demanda por músicas e surgiram as histórias. “Isso mudou em 100% a relação com meus filhos”, reconhece Marlene. O tempo de convívio da família, à noite, tornou-se um tempo rico de troca de afeto, conhecimento e de histórias. “Eles passaram a me contar histórias e a me cobrar de ouvi-las com atenção, pediram para que eu visse seus trabalhos na porta da sala”, diz.

Marlene conversa muito com os outros pais e deles ouviu os mesmos relatos. “O dia a dia da rotina do pai e da mãe é trabalhar para comprar as necessidades, alimentação, e muitas vezes nos esquecemos do principal: o carinho, a convivência. Hoje chego, vou brincar com eles, quero saber o que aconteceu”, conta. Mas, para Marlene, a principal mudança se expressa no rosto das crianças. “Elas estão mesmo mais felizes”, diz. E aprendem? A resposta vem de quem acompanha o trabalho tecnicamente. “Sim, aprendem tudo o que aprendiam antes, desenvolvem-se em todos os campos e, na escrita, até mesmo mais do que antes”, assegura a educadora Giovanna Saraiva Bezerra Barbosa. “Uma experiência linda de se ver em meus filhos”, reconhece Marlene. 

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