Foco na Infância lança pesquisa sobre segurança pública e infância

Durante dois anos a Avante – Educação e Mobilização Social e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) dedicaram-se a uma investigação que analisou a percepção das comunidades do Calabar e Alto das Pombas sobre violência, políticas de segurança pública e sua repercussão para a Primeira Infância. A proposta é “qualificar as proposições e o controle de políticas públicas nesta área utilizando todo o rigor acadêmico. E assim potencializar o poder que este tipo de estudo pode ter sobre a temática”, explica Ana Oliva Marcilio, coordenadora do projeto Foco na Infância, da Linha de Formação para Mobilização e o Controle Social da Avante, que realizou a pesquisa em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) por meio do Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Comunidade, Família e Saúde (FASA) e apoio da Fundação Bernard Van Leer.

A pesquisa já finalizada esta prestes a ser publicada. O material terá uma versão acadêmica que está em fase de diagramação, e uma versão voltada para as crianças, em fase de adaptação da linguagem. A primeira versão terá como foco colocar as informações coletadas à disposição de instituições que trabalham com direitos da infância, cidade e violência da sociedade civil e poder público, além de outras comunidades interessadas, em especial aquelas que possuem Base Comunitária de Segurança Pública (BCSP) instalada. A segunda pretende tornar os dados acessíveis às crianças, compreendendo-as como sujeitos de seus direitos. A pesquisa constata que elas reconhecem e compreendem a presença da violência na comunidade e na pratica dos policiais, mas não percebem a coerção doméstica como violência.

Participaram da pesquisa membros da própria comunidade entre crianças, lideranças locais, profissionais das áreas de saúde, educação, proteção à infância e dos próprios membros da Base Comunitária de Segurança Pública (BCSP), que expuseram suas impressões e expectativas acerca da implantação da Base. Foram ouvidas 559 famílias, realizados 04 grupos focais  e 10 entrevistas, além de oficinas lúdicas com crianças e fotográficas com moradores visando capturar o olhar do mesmo sobre estas temáticas: o bairro e as crianças, saúde, educação, e proteção à infância. Além da participação da comunidade, contribuíram com a pesquisa, educadores, profissionais de saúde e membros da Base Comunitária de Segurança Pública. Os temas abordados na investigação foram educação, saúde, moradia, esgoto, lixo, lazer, segurança pública. A visão das crianças sobre o assunto foi um ponto forte da pesquisa, pois ela reflete a cultura onde foram criadas.

Resultados

Alguns resultados refletem, por exemplo, que para a maioria dos moradores (67,4%) a qualidade de vida no bairro melhorou muito após a implementação da BCSP. Para 47,8% a segurança pública foi o fator que mais se beneficiou com a chegada da Base, seguido das condições de moradia (45,3%) e do lazer (30,2%). Apenas 26,8% dos moradores consideraram a educação como o fator mais beneficiado.

De acordo com a pesquisa, a comunidade reconhece o impacto da chegada da BCSP:
“Antes de ter essa base aí tinha meninos menores que 18 com armas na mão, ali atirando”, conforme reflete a fala da uma das crianças entrevistadas. Mas entende que a presença da Base não é suficiente para transformar a sensação de segurança, que é necessário um atendimento amplo. “Nenhuma base vai mudar a violência. Nem no Calabar ou bairro algum. Tem que se olhar pela educação, saúde e outros recursos, como projetos sociais, para ajudar a amenizar a situação”, explica dona Lindalva, moradora.

A pesquisa também levantou dados sobre como a comunidade cuida das suas crianças. Neste quesito foi identificado que 39% das casas possuem crianças de 0 a 6 anos e que 25% das famílias deixam as crianças em creches para trabalhar. Em relação aos castigos físicos 31% dos adultos afirmam ter vivenciado castigos físicos na infância, no entanto, um número bem maior de adultos (52,5%) castigam suas crianças. Mas se dividem quanto a concordar ou não com esta prática: 53,8% discordam totalmente e 45% concordam com algum grau de castigo.

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