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Curumim chama cunhatã que eu vou contar… 10 sugestões de atividades para escolas

No último domingo, o Brasil comemorou o dia do Índio (19/04). Algumas escolas aproveitam a data para abordar o tema, em geral de maneira estereotipada. Além de passar uma ideia equivocada para as crianças sobre a realidade desse povo – que tem uma história em terras brasileiras anterior à descoberta do país pelos europeus – não conseguem fazer um retrato atual da população indígena. Falar sobre o índio é falar sobre o respeito que o país tem tentado dar às diferenças e aos direitos do seu povo, de como temos tratado as nossas origens e as nossas crianças.

Para sensibilizar sobre a importância da causa, colaborar com as escolas e ajudar a formar cidadãos mais conscientes, a Articulação Xingu Araguaia publicou uma matéria com sugestões de atividades para crianças. As dicas são do Unicef e podem ser usadas ao longo de todo o ano. Afinal, o que a história mostra, à medida que a conhecemos melhor, é que todo dia, toda hora, era dia de índio.

Dado de realidade

O último dado oficial do Ministério da Saúde para mortalidade infantil indígena no Brasil ainda é de 41,9 para cada 1000 nascidos vivos (2011). Nesse mesmo ano, a taxa geral de mortalidade infantil no Brasil era de 15,3 para cada 1000 nascidos vivos. Ou seja, a taxa de mortalidade das crianças indígenas está muito acima da média nacional.

As principais causas de óbitos em menores de um ano na população indígena, em 2012, foram afecções originadas no período perinatal (30,1%), seguidas pelas doenças infecciosas e parasitárias (14,6%), doenças do aparelho respiratório (12,9%) e malformações congênitas (11,1%). A proporção por causas externas correspondeu a 10,9% dos óbitos registrados, um crescimento significativo em relação aos anos anteriores. A taxa de morte por agressões não especificadas se destaca com nada menos que 77% dos casos. E é possível que esses números sejam ainda maiores devido à dificuldade de notificação dos óbitos ocorridos nas aldeias.

O quadro sugere um descaso com a situação, possivelmente provocado pelo desconhecimento, geração após geração, das condições de vida desse povo e uma ignorância e consequente desrespeito aos seus costumes. E a educação é o melhor caminho para uma mudança nessa realidade.

MATÉRIA da Articulação Xingu Araguaia

Dia do Índio: 10 sugestões de atividades para escolas

19 de abril, Dia do Índio. É comum as escolas comemorarem a data fantasiando e pintando as crianças, à semelhança do que fazem na Páscoa. Sai o coelhinho, entra o índio. A figura indígena, abordada desta maneira, se torna tão irreal quanto um coelho gigante que traz ovos de chocolate em embalagens coloridas.Preparamos algumas sugestões de atividades para tratar do tema sem preconceitos, estereótipos, romantismo ou nostalgia:

Por Lilian Brandt/AXA

1. Estude e repense seus (pre)conceitos

Mais importante do que promover uma atividade divertida, é estar bem informado. A reportagem especial “As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas” esclarece as afirmações mentirosas mais recorrentes e muitas delas provavelmente já foram contadas por professores e alunos. Confira e comece por aí!

2. Priorize informações sobre os indígenas na atualidade

Refletir sobre a história dos povos indígenas é muito importante, mas tenha sempre o cuidado de trazer outros pontos de vista, e não só o de Cabral. Muitos pesquisadores indígenas fazem suas próprias análises da história de seus povos e do contato com a nossa sociedade. Além do mais, é importante superarmos o pensamento de que “índio é coisa do passado”.
Portanto, além de trazer a história e enfatizar aspectos culturais, como festas e rituais, lembre-se de trazer questões atuais: uso de tecnologias (produção de vídeos e redes sociais, por exemplo) e a atuação política.

3. Valorize a diversidade de povos

Muitas vezes os professores promovem atividades escolares com boas intenções, como pintar as crianças com duas linhas paralelas nas bochechas, colocar um cocar de brinquedo e dançar músicas em línguas que as crianças não compreendem. Estas atividades podem até trazer um sentimento positivo das crianças em relação aos indígenas, mas não trazem a realidade.

Temos no Brasil mais de 240 povos indígenas. A reprodução da imagem de um “índio genérico”, caracterizado por pinturas, vestimentas e aspectos físicos exclui diversas etnias e indivíduos, que por diversas questões não se enquadram neste padrão imaginário.

Não generalize. Lembre-se de evidenciar a diversidade de povos indígena e suas particularidades. Mostre também indígenas ressurgidos, de cabelo crespo, sem pinturas, universitários, etc. Traga exemplos reais e explique qual a etnia, onde está localizada e aspectos de sua cultura.

4. Convide indígenas para a escola

Qualquer atividade pode se tornar muito mais interessante se tiver a participação de indígenas. Convide-os para fazer uma palestra sobre suas vidas, seu povo, espiritualidade, conhecimento da natureza, produção artística ou o que eles desejarem!

O convidado indígena também pode fazer uma oficina de artesanato, pintura, culinária ou de brincadeiras tradicionais de seu povo.

5. Incentive-os a navegar

O site Povos Indígenas do Brasil – PIB Mirim, do Instituto Socioambiental (ISA), possui bastante material destinado à pesquisa escolar, divulgando informações com uma linguagem acessível ao público infanto-juvenil. Há também atividades interativas como a Aldeia Virtual, jogo online situado em uma aldeia no Cerrado brasileiro. Cada criança escolhe o avatar de um índio, podendo conversar com outros participantes e jogar, sempre aprendendo sobre as culturas indígenas.

Portal Índio Educa conta com diversos colaboradores indígenas, que trazem o olhar de diferentes povos sobre questões atuais. São pequenos textos, fotografias e vídeos que tratam de temas como cultura, história e atualidade. Há também vários textos para auxiliar os professores a trabalhar a temática indígena em sala de aula.

6. Faça um festival de cinema

Existe uma produção infinita sobre o tema, muitas delas feitas por indígenas. Sugerimos aqui os mais “clássicos”:

Índios no Brasil

É uma série produzida justamente para inserir a discussão sobre histórias e culturas indígenas nas escolas. São 10 programas apresentados pela liderança indígena Ailton Krenak, cada um com cerca de 20 minutos.

Apesar de ter sido produzida há 10 anos, a série traz muitas questões atuais. A partir do olhar de nove povos indígenas, a série retrata a relação dessas etnias com a natureza, com o sobrenatural e com a sociedade brasileira. Os programas trazem também depoimentos de não-indígenas, especialistas e pessoas comuns.

Você pode baixar nos sites da TV Escola e Vídeo nas Aldeias

Pajerama

O curta metragem Pajerama é sobre um indígena que está andando na floresta e de repente… (não vou contar para não perder a graça!). É uma animação linda, que possibilita refletir sobre a expansão do espaço urbano e o encontro com a nossa sociedade.

Pessoas de todas as idades podem gostar, e como não tem falas, pode ser especialmente interessante para crianças, inclusive as indígenas.

Assista aqui.

Das Crianças Ikpeng para o mundo

 Um filme super fofo! Crianças Ikpeng apresentam sua aldeia, família, brincadeiras, festas e seu cotidiano. É um filme leve e instigante, pois o tempo todo elas perguntam para quem está assistindo sobre como é a sua vida, curiosas em conhecer crianças de outras culturas. Assista aqui.

7. Fale de política

Estamos vivendo um momento tão terrível em relação aos direitos indígenas, que não dá para ignorar e mostrar só o lado “bonito” do tema. O Dia do Índio foi instituído no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas, em 1943. A data faz referência ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu no México em 1940. Os índios não participaram nos primeiros dias do evento, mas no dia 19 de abril tiveram uma grande participação. Portanto, fale de participação, fale de mobilização, fale de luta!

Acompanhe a Mobilização Nacional Indígena e explique as principais reivindicações dos indígenas.

8. Ouçam músicas indígenas

Talvez alguém ainda considere a possibilidade de tocar para as crianças as músicas “Vamos Brincar de Índio”, da Xuxa e “Curumin Iê Iê”, da Mara Maravilha. Outros mais sofisticados podem preferir “Um Índio”, do Caetano ou “Índios”, de Legião Urbana. Há ainda aquelas músicas “new age” com referências aos índios norte-americanos.Mas independente de seu gosto musical, não toque somente músicas SOBRE indígenas, toque músicas DE indígenas. A Rádio Yandê toca diversas músicas de indígenas, além de programas informativos que abordam a realidade indígena.

 9. Sirva comidas que aprendemos com os indígenas

Além de deliciosas e nutritivas, as comidas podem instigar um debate sobre a biodiversidade e o trabalho de agricultura e melhoramento genético que os indígenas fazem há milhares de anos. Que tal bolo de milho, tapioca, pipoca e frutas nativas?

10. Torne a questão indígena interdisciplinar e contínua

Como já disseram Tim Maia e Jorge Benjor, antigamente “todo dia era dia de índio”. Não deixe que hoje ele só tenha o dia 19 de abril! A Lei 11.645/08, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, ressalta a importância de trazer as suas contribuições nas áreas social, econômica e política. Relacione o tema com os conteúdos de Português (temos diversas palavras em nosso vocabulário de origem indígena), Geografia (noção de território), História (contato, escravidão e lutas) e Ciências (conhecimento indígena da biodiversidade brasileira). Leve estas questões para a sala de aula ao longo do ano todo.

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