Crianças exploram o mundo a partir de vivências que valorizam a cultura local

Com simplicidade e talento, Mestre Nado transforma o barro em arte e som, criando instrumentos a partir da cerâmica. No seu ateliê, Som do Barro, o oleiro é conhecido em Olinda (PE) por produzir ocarinas (instrumentos que lembram uma flauta). Como um bom mestre, Nado trabalha de modo que a produção do artesanato seja ensinada a outras pessoas. Foi juntando a boa vontade de Mestre Nado, de compartilhar saberes, com a habilidade para explorar o mundo que a infância proporciona que a Escola Municipal Metodista Gladys Oberlin realizou mais uma etapa do projeto Explorando as riquezas da nossa comunidade.

A iniciativa partiu do reconhecimento das professoras sobre a importância da inclusão de saberes da cultura local no currículo da educação infantil, aspecto abordado nas formações, com base nas referências do Paralapracá, como as do Caderno de Orientação Assim se explora o mundo: “A construção da identidade da criança está muito associada aos elementos culturais que ela aprende a valorizar e a utilizar como referência. Assim, é essencial que não apenas os saberes universais sejam valorizados, mas que ela também possa reconhecer os elementos da cultura comunitária para interagir com eles, questioná-los, internalizá-los, constituindo-se como sujeito social”, (Caderno de Orientação Assim se explora o mundo p. 15)

“Começamos a pesquisa, dentro da própria comunidade, espaços educativos, que pudessem oferecer a magia da exploração em amplo sentido às crianças. O local escolhido foi a Olaria Som do Barro do Mestre Nado, um espaço educativo dentro da nossa comunidade. Nado tira som do barro e é personagem famoso de Olinda. Há 21 anos faz esculturas que tocam”, explicou Ladjane Monteiro, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Metodista Gladys Oberlin. Na oportunidade, as crianças ouviram músicas tocadas por Mestre Nado, acompanharam o trabalho do artista, o de transformar a argila em instrumentos musicais, e colocaram a mão na massa, criando, de forma livre, seus próprios objetos.

Para conhecer e explorar a diversidade cultural, outra instituição olindense também vem promovendo vivências de valorização e conhecimento do patrimônio local. A Escola Dom João Costa fica a pouco mais de 1 km da sede do histórico bloco carnavalesco Homem da Meia-noite, mas poucas crianças conheciam esse importante patrimônio brasileiro. O tradicional bloco desfila nas ladeiras do sítio histórico de Olinda com o gigante boneco que leva o mesmo nome do bloco e mede três metros e meio de altura. “Apesar de estarmos próximos da sede, algumas crianças não conheciam e não tinham relação de pertencimento com aquela cultura. Temos um projeto chamado Somos um patrimônio maior de um patrimônio: você sabe o que significa isso? Assim, começamos a trabalhar dentro da perspectiva de pertencimento. Toda comunidade escolar se engajou no projeto. É importante valorizar o que temos e o que somos”, afirmou Luciana Justino de Almeida, coordenadora pedagógica da instituição.

Relatos de experiências como essas são cada vez mais recorrentes nas redes parceiras que integram o programa Paralapracá, uma vez que fomentam vivências sobre exploração de mundo, valorizando a cultura comunitária e as práticas junto a espaços e personalidades locais. Segundo o relatório da Move Social, instituição que faz a avaliação externa do Programa, cada vez mais “a cultura local ganha espaço em atividades, com inclusão de artistas, músicas, contos e personagens comunitários como fio articulador de trabalhos artísticos, visitas ou mesmo na interação de artistas locais diretamente com as crianças”.

O Programa

O Paralapracá é uma frente de formação de profissionais da Educação Infantil realizado pela Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com as secretarias municipais de Educação e apoio do Instituto C&A, que visa contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na Educação Infantil, com vistas ao seu desenvolvimento integral. Para isso, oferece formação continuada para formadores das Redes Municipais de Educação, valorizando os saberes de cada localidade e ampliando as referências teórico-práticas, a partir das orientações nacionais para o segmento.

O Paralapracá foi lançado em 2010 como um projeto do programa Educação Infantil do Instituto C&A, originalmente focado na região Nordeste. Desde então, chegou a dez municípios, em dois ciclos de implementação. Em 2015, com a chancela do Guia de Tecnologias Educacionais do MEC, ganhou caráter nacional.

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