Como o ciclo produtivo da confecção do Jeans colabora para o trabalho infantil

Riacho das Almas é uma pequena cidade no Agreste Pernambucano, onde a indústria da moda com a confecção do jeans é uma atividade muito forte na economia local, sendo o sustento principal das famílias da região. Até ai nenhum problema. De acordo com os dados levantados para o Diagnóstico Prote-Já, fomento à prevenção e erradicação ao trabalho infantil,o desafio começa quando a pressão sobre a produtividade, para o atendimento das demandas, acaba envolvendo toda a família, destacadamente crianças e adolescentes que, nesse contexto, são submetidas a tarefas repetitivas, em ritmo acelerado e com jornadas exaustivas.

De acordo com os dados levantados pelo Diagnóstico, as crianças e adolescentes são envolvidos, inclusive, nos trabalhos nas lavanderias, local que oferece condições insalubres, com riscos à saúde do trabalhador, que quase sempre executa tarefas sem equipamento de proteção, expondo-se a problemas respiratórios e outros agravos à saúde pela inalação de produtos utilizados na descoloração e coloração do jeans.

O documento foi elaborado pela Avante – Educação e Mobilização Social, como ação inicial do Prote-Já, projeto realizado em parceria com Fundo Brasil de Direitos Humanos. O objetivo foi o de entender a situação do trabalho infantil no município e, para isso, foi realizada uma pesquisa quantitativa, por meio da análise de diferentes bases de dados, e uma qualitativa, por meio da escuta de 68 atores sociais locais, de diferentes segmentos, a exemplo da secretária municipal de Assistência Social, secretária municipal de Saúde, um vereador, além de agentes públicos das diversas áreas como os técnicos do Centro de Referência Social (CRAS), agentes comunitários de Saúde e, também, conselheiros tutelares e integrantes do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), e uma representante dos produtores de Jeans do povoado de Patos.

Além da participação das crianças e adolescentes nos fabricos e facções, onde ocorre a confecção de peças, os entrevistados reconheceram, o trabalho desse público na feira livre, onde são encontrados fazendo fretes de mercadorias ou trabalhando em bancas. Uma das técnicas no CRAS, entrevistada para a pesquisa, acredita que “na feira a exploração do trabalho infantil é culpa do dono da banca e do cliente que paga pelo frete. Ocorre mais para o adolescente. Nas facções quem tira mais pelo deles é a mulher, que precisa conciliar a renda com o bolsa família e com as tarefas domésticas”, disse.

Desafio do enfrentamento

Muitos entrevistados ressaltaram a complexidade do problema e a dificuldade de fazer o seu enfrentamento, uma vez que as famílias percebem o trabalho das crianças e adolescentes como algo necessário. De acordo com o Diagnóstico, pesa também sobre as famílias o sentimento de proteção, pois vêm o trabalho como uma forma de evitar que seus filhos fiquem na rua. Há, ainda, por parte delas, pouca valorização da escola e da Educação como possibilidade de mudança de vida.

“A alteração da realidade requer a adoção de novas estratégias para gerar desenvolvimento social, estímulo a agricultura e ao comércio, além de maiores investimentos no campo da Educação, a exemplo da revalorização da escola, promoção de cursos de qualificação sócio profissional, além do fortalecimento da rede de proteção da criança e do adolescente”, pondera Judite Dutra, consultora associada da Avante e membro da equipe  técnica do Projeto.

“Para quebrar esses paradigmas e garantir à criança e ao adolescente o direito de aprender e ter infância e juventude, é preciso sensibilizar a sociedade local para o problema, conscientizar quanto aos efeitos do trabalho precoce na saúde e no desenvolvimento da criança e do adolescente, criando alternativas socioeconômicas viáveis para a geração de renda das famílias e o desenvolvimento sustentável do município”, disse José Humberto Silva, consultor associado da Avante e coordenador do Projeto.

Além do Diagnóstico, o Prote-Já prevê o desenvolvimento de formação, em rede/articulada, com diferentes atores públicos e da sociedade Civil, com vistas ao fortalecimento e articulação das instituições integrantes do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) da Criança e do Adolescente, para uma atuação mais efetiva na prevenção e combate ao trabalho infantil na produção de confecções no município de Riacho das Almas-Pe.

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