Campanha Cadê Nossa Boneca? discute representatividade em curso de artesanato

Você já parou para observar as prateleiras de bonecas em uma loja de brinquedos? Basta um breve olhar para perceber a ausência de representatividade. Se somos tão diversos, por que a maioria das bonecas é tão semelhante? Essa inquietação pautou o debate “Construção da identidade negra e as relações cotidianas”, promovido pela eduK – plataforma de educação online segmentada -, no dia 27 de janeiro, com a participação de Mylene Alves, psicóloga e uma das idealizadoras da Campanha “Cadê Nossa Boneca?”, realizada sob a chancela da Avante – Educação e Mobilização Social.


Além de Mylene Alves, a facilitadora do Grupo Guardiões da Consciência eduK, Anne Galvão, e a artesã Glória Viana participaram do debate, que fez parte do curso Bonecas negras em tecido, realizado pela eduK. Ministrado por Glória, além de ensinar técnicas para a confecção de bonecas negras artesanais, o curso teve como intuito conscientizar as pessoas a respeito da relação dos brinquedos com a representatividade e as subjetividades infantis. 


Representatividade


De acordo com especialistas, a falta de representatividade é um problema, já que a autoidentificação é fundamental para a criança. Ou seja, se o brinquedo não se parece em nada com ela, se ela não se vê em bonecas e bonecos, a autoestima, desde a primeira infância, pode ficar comprometida. Além disso, a diversidade de bonecas também é importante para que todas as crianças convivam com as diferenças e aceitem os vários tipos físicos.


“Com a boneca, a menina aprende muito sobre si e sobre o mundo. Com a boneca, a criança exercita papéis sociais, e atua com o auxílio dela nas suas brincadeiras, praticando seu ser e estar em sociedade. Por isso, se reconhecer em imagem e semelhança com a boneca é um processo importante de empoderamento na infância, base para o desenvolvimento da autoestima da futura mulher. Depoimentos que colhemos na Campanha atestam o quanto essa lacuna na infância é associada a inseguranças e desafios de autoaceitação na vida adulta”, afirma Mylene.


Mercado


Segundo dados do IBGE (2014), 53,6% da população brasileira afirma suas origens africanas. E embora alguns segmentos, como a moda e a estética, estejam mais sensibilizados para a representatividade, os brinquedos ainda não acompanham esse movimento e estão longe de retratar essa diversidade. Atualmente, somente 3% das lojas virtuais de brinquedo disponibilizam bonecas negras, de acordo com uma pesquisa realizada pela equipe da Campanha.


“Essa não é uma questão de oferta e demanda, é uma questão anterior, relacionada aos modelos estéticos”, ressalta Mylene, ao demonstrar que a adesão à Campanha Cadê Nossa Boneca?, no ar desde abril de 2016, mostra um cenário diferente. Só a Fanpage da Campanha  possui hoje 25,8 mil curtidas, 127 bonequeiras cadastradas no álbum Onde achar a sua boneca negra, além do mapa colaborativo no site, com cerca de 200 notificações sobre lojas e produtoras em todo o país onde se encontram ou não bonecas pretas.


Racismo


Segundo a facilitadora do Grupo Guardiões da Consciência eduK, Anne Galvão, a brincadeira de boneca, muitas vezes, representa a primeira vez em que a menina negra vai se deparar com a falta de representatividade. “Temos de admitir que o racismo está presente, e com certeza o que leva a encontrarmos poucas bonecas pretas, ou essas bonecas não terem saída, é o racismo”, afirma Anne, dizendo ainda que muitas vezes as crianças negras escolhem uma boneca branca porque é o modelo de beleza e sucesso demarcado socialmente.


Essa realidade é expressa no Teste da boneca, experimento psicológico realizado nos anos 40, nos Estados Unidos, para testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-americanas e causado por preconceito, discriminação e segregação racial. Exibido ao longo do debate, o vídeo mostra como as crianças identificam a boneca negra como algo negativo, uma extensão de como elas se veem. Também foram exibidos vídeos produzidos pela Campanha “Cadê Nossa Boneca?”.

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