Brincar – o laço afetivo contra a violência comunitária

O que o brincar tem a ver com o enfrentamento à violência comunitária? Uma prova da potência transformadora da brincadeira nesse contexto foi testemunhada pelos representantes da organização alemã KinderNotHilfe (KNH), parceira da Avante – Educação e Mobilização Social na realização do projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos. A equipe esteve em Salvador, no mês de outubro, quando visitaram o Quilombo Paraíso, em Periperi, um dos locais onde o projeto desenvolve suas ações.

O brincar, no contexto do Estação Subúrbio, é uma atividade estruturante para o enfrentamento à violência. Nele, a essência da brincadeira é explorada como uma forma de fortalecer as relações das crianças consigo mesmas, com seus pares e com a comunidade. De origem latina, a palavra brincar vem de vinculum, que quer dizer laço, e é derivada do verbo vincire, que significa aprender, seduzir, encantar. Nos labirintos das línguas, vinculum virou brinco e originou o verbo brincar, sinônimo de divertir-se. Hoje, um direito garantido às crianças em leis como o Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA –  ‎Lei 8.069) e o Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), além de documentos internacionais como a Convenção Internacional dos Direitos das Crianças.

Na visita da KNH ao Quilombo Paraíso foi o brincar que estabeleceu o laço capaz de driblar as diferenças culturais entre Brasil e Alemanha. No chão,e muito à vontade, brasileirinhos e alemães da KNH deixaram a mágica fluir e após alguns momentos de brincadeira, Katrin Weidemann, presidente da KNH; Jürgen Schübelin, responsável pelo departamento América Latina e Haiti; e Christiane Rezende, da KNH Brasil (Regional SE/CO), ouviram músicas elaboradas por elas e mergulharam um pouco na sua realidade.
Os integrantes da KNH também dialogaram com as famílias e lideranças comunitárias do Quilombo Paraíso, caminharam por entre casas feitas de madeira e lona, e foram convidados a visitar uma das famílias atendidas pelo Projeto. Devido ao pouco espaço da casa, ouviram, de pé, as histórias e a importância do Estação Subúrbio para D.Edilene Santos e seus filhos. Tudo isso durante visita a Salvador, em uma ação de assessoramento dos projetos apoiados pela instituição.

Após a visita ao Quilombo, a equipe da KNH reuniu-se na Avante com a equipe do projeto e membros do grupo gestor da instituição para aprofundamento nas ações propostas e avaliação da visita à comunidade. Durante o diálogo com a KNH, a equipe da Avante defendeu a importância de assegurar os direitos das crianças de forma integrada. “O Estatuto da Criança e do Adolescente, importante marco para consolidação dos direitos das crianças no Brasil, estabelece três grandes eixos: a proteção, a provisão e a participação e estendemos que o brincar é um grande elo para a garantia de cada um destes eixos, ou seja, a criança é protegida, tem provisão e participação por meio do brincar”, disse Ivanna Castro, coordenadora do Projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos e membro do Grupo Gestor da Avante.

Ana Marcilio, também membro do grupo gestor da Avante, e integrante da equipe do projeto, completou, ressaltando que as discussões sobre direitos perpassam muito pela proteção. “No entanto, nós acreditamos que um direito não é superior ao outro, um não vale mais que o outro. Então, a proteção não vale mais do que a participação, não vale mais do que a provisão, por exemplo”. Jüguer Schübelin, enfatizou que a democracia precisa tanto da participação quanto da proteção. “Se o sistema não permitir a participação, ao final terminamos sem democracia. As propostas estão aqui com vocês, na sua experiência de trabalho cotidiana. Isso tudo é muito intenso e importante e é uma experiência motivadora para nosso trabalho”, observou.

O encontro foi encerrado com uma declaração da equipe da KNH em relação à potência do brincar como forma de enfrentamento à violência. “Saio daqui como militante da importância de garantir, na prática, o direito ao brincar”, disse Jürgen Schübelin. O responsável do departamento América Latina e Haiti da KNH, e tradutor da equipe, reconheceu as dúvidas que pairavam em relação à eficácia da estratégica e a equipe retorna para a Alemanha com um sentimento de acolhimento do processo de transformação que vem acontecendo na comunidade, a partir das ações do Estação Subúrbio.

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