Avaliar o ambiente pode transformar uma escola

Não pode ter professora brava, lixo, nem lobo mau. Estes itens foram destacados por crianças de escolas que participam do projeto Paralapracá em Maceió (AL), em suas avaliações sobre o ambiente escolar. “Não pode ter perigo. As crianças querem se sentir protegidas”, interpreta Maria Geisa de Andrade, assessora do projeto na capital alagoana. Além das crianças, foram convidados a avaliar o ambiente das instituições de educação infantil os professores, os coordenadores pedagógicos, as merendeiras, os vigias e a comunidade. “Todos devem refletir sobre o seu espaço”, defende Geisa.

Para a avaliação dedicada ao eixo do projeto Paralapracá “Assim se Organiza o Ambiente”, a assessora estudou junto com as coordenadoras pedagógicas, durante os encontros de formação, os Indicadores da Qualidade (Indique) na Educação Infantil.O instrumento foi elaborado sob a coordenação conjunta do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Básica, da Ação Educativa, da Fundação Orsa, da União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês).

O Indique é composto por sete dimensões que orientam a comunidade escolar em uma auto avaliação da qualidade das instituições de educação infantil. “Como o ambiente é o espaço interacional e emocional, e não só pedra e cal, duas dessas dimensões dizem respeito ao eixo ‘Assim se Organiza…’: a dimensão 3 e a dimensão 5”, afirma Geisa.

Segundo a assessora, enquanto a dimensão 3 – chamada Dimensão Interações – trata do ambiente relacional, a dimensão 5 – designada Dimensão Espaços, Materiais e Mobiliários – volta-se para o espaço físico e os materiais. “Avaliar o espaço da educação infantil nos ajuda a perseguir a qualidade. É no espaço que os profissionais vão desenvolver as atividades com as crianças. Em um ambiente que as estimule, as crianças vão vivenciar experiências que garantam a elas o direito de conhecer o mundo, de cantar, de brincar e de várias outras dimensões”, sinaliza.

A Dimensão Interações reúne indicadores de respeito à dignidade e ao ritmo das crianças; à sua identidade, desejos e interesses; às ideias, conquistas e produções das crianças; e à interação entre crianças. A Dimensão Espaços, Materiais e Mobiliários, por sua vez, abrange espaços e mobiliários que favorecem as experiências das crianças, materiais variados e acessíveis às crianças, bem como espaços, materiais e mobiliários para responder aos interesses e necessidades dos adultos.

Para Mônica Samia, consultora associada da Avante – Educação e Mobilização Social e coordenadora de implementação do projeto Paralapracá, avaliar o espaço da educação infantil permite uma reflexão coletiva sobre a importância que ele tem. “Na nossa tradição pedagógica, os professores planejam atividades, não espaços. Muitas vezes o espaço fica ali e as pessoas se acostumam com ele. Avaliar o espaço é parar e olhá-lo com cuidado, critério e referências. Quando propomos um processo de avaliação, estamos promovendo a possibilidade de achar aquilo que é familiar estranho”, pontua.

Como nos demais eixos do projeto Paralapracá, a avaliação do eixo “Assim se Organiza o Ambiente” é considerada uma etapa para a tomada de decisões. “São as duas ideias basilares da avaliação: permitir uma pausa para o olhar criterioso e promover tomadas de decisão e planos de mudança”, explica Mônica. “Nós temos estimulado todas as coordenadoras a fazer o que chamamos de ‘pequenos planos de mudança’ na organização do ambiente”, relata.

A atividade tem dado bons resultados em Maceió, onde as avaliações das dimensões 3 e 5 do Indique estão fundamentando transformações tanto no ambiente relacional como no ambiente físico das escolas que participam do projeto Paralapracá. “Depois de reunir as avaliações do Indique, fazemos um pequeno plano de trabalho com as possibilidades de intervenção”, conta Geisa, salientando que cada escola, depois da formação e das conversas sobre a ferramenta avaliativa, aplicou o Indique da forma que achou mais interessante.

Além do Indique, Mônica lembra que o conceito de “tematização da prática” — pauta do bate-papo de abril  no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do projeto Paralapracá — também pode ser usado como um instrumento de gestão. “A tematização da prática não é uma ferramenta de avaliação como o Indique, mas causa o mesmo efeito: faz parar e pensar no que precisa ser transformado.”

O projeto Paralapracá é uma ação do programa Educação Infantil do Instituto C&A e visa contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na educação infantil, com vistas ao seu desenvolvimento integral. O projeto se desenvolve em aliança com secretarias municipais de Educação e possui dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de educação infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores. A iniciativa é implementada em parceria técnica com a Avante.

Em seu segundo ciclo (2013-2015), o projeto Paralapracá é implementado nos municípios de Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE). O primeiro ciclo da iniciativa (2010-2012) abrangeu as cidades de Campina Grande (PB), Caucaia (CE), Feira de Santana (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Teresina (PI).

Fonte: site do Paralapracá

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